III
QUESTIONAMENTO
Era uma vez talvez um país de novo
feito de pernas e de braços
de mãos com dedos ágeis a dedilharem cordas
extraindo sons de instrumentos desafinados
feito de gente que diz não à sua sorte
feito de gente que não quer a sua morte
feito de gente naturalmente forte.
dúvidas? tenho-as tantas!
vou conseguir dobrar mais aquela esquina?
vou conseguir vislumbrar outra saída?
busco em mim respostas e esbarro nas perguntas
alguém que me ouça?
alguém que me responda?
ao longe a maré
Se por mais tempo a mocidade esvai-se
talvez até não nasçam mais crianças
mortos ou ausentes os prenhes de esperança
nem tempo nem corpo nem forma de amar
dúvida, dúvidas…tantas
alguém pode esclarecer? já não sei nada
até as estações do ano mudam sem se perceber
estamos no verão? mas os figos nas figueiras já pararam de medrar…
quem quer saber se a fruta é nossa ou vem de fora?
Volto-me para um lado para o outro
revolto-me e revolvo-me
tanta maré
maré e silêncio
onde está a tua gente?
que é feito da marinhagem de outros tempos?
este silêncio desnorteia-me
faz-me dor de cabeça, amedronta-me
há que gritar! há que lutar!
era uma vez um país de marinheiros
alguém me ouve?
talvez a Catrineta por aí a navegar
by: Sara Loureiro